Mariana Fenta
A Educação inclusiva supõe uma escola inclusiva, uma escola que “arranja maneira” de acolher todas as crianças e jovens da sua comunidade, flexibiliza e adapta os seus currículos, não se limitando a reduzi-los, reestrutura as suas práticas de organização e de funcionamento, de forma a responder à diversidade dos seus estudantes, desde os mais vulneráveis aos mais dotados, apostando na mudança de mentalidades e de práticas, implicando, valorizando e corresponsabilizando todos os intervenientes no processo educativo. (Sanches, 2011, p. 137).
Na agenda de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 descritos pela ONU, é reforçada a premissa de que “ninguém deve ser deixado para trás”. Neste sentido, falar sobre inclusão vai para além da matrícula da criança na escola, mas da sua permanência, desenvolvimento, aprendizagem. A Inclusão Escolar, pautada no Paradigma da Educação Inclusiva, é geradora de desafios múltiplos às escolas, professores e também das famílias. Apesar das inúmeras conquistas, ainda que recentes, em relação à legislação, ainda há muito espaço para avanços em linhas mais concretas.
Já sabemos o porquê devemos incluir e temos muitas ideias de como fazê-la. Ainda assim, é preciso coragem, persistência e ousadia. Coragem para enfrentar todos aqueles que ainda não acham que é possível, persistência porque não iremos acertar a primeira e ousadia porque que toda mudança implica em inovação e quebra de padrões.
Dados recentes mostram que a o número de alunos que fazem parte do público-alvo da educação especial é de 1,2 milhão, o que mostra a responsabilidade da escola regular em parceria com os professores, auxiliares, todos aqueles que fazem parte da escola, famílias e a sociedade em geral de lutarem pelos direitos que todos estes alunos possuem de aprender e desenvolver os seus potenciais.
Os desafios não são poucos. Então, como fica a inclusão em tempos de crise?
A crise causada pela pandemia do novo coronavírus não criou problemas diferentes, mas desmascarou os antigos. Vemos hoje, com muita clareza, as dificuldades enfrentadas por professores e alunos com deficiência e/ou outras problemáticas a lutarem para ter acesso à educação. E crescem, assim, os abismos entre aqueles que têm acesso às aulas e conteúdos remotos e, por outro lado, um conjunto que, quando possui o acesso, não possui as adaptações necessárias.
Assim, como podemos fazer com que o conhecimento chegue a todos? A proposta pode ser trabalhada em três etapas, a saber:
– Análise contextual dos alunos;
– Criação de um plano de ação;
– Aplicação e avaliação dos resultados.
Para pensar nos alunos que apresentam alguma deficiência, transtorno ou até mesmo uma dificuldade acentuada que requer um planejamento individualizado, para o que o mesmo alcance as suas aprendizagens, são necessárias reflexão e ação. Uma não deve existir sem a outra. De nada adita pegar em ações já existentes sem refletir a especificidade da situação de cada um. E o mesmo vale para a reflexão que sozinha não resolve os problemas.
O Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) é uma perspectiva que pode e deve ser usada para repensar o currículo e a sua apresentação para o aluno. Neste sentido, o professor deve pensar em diferentes meios de apresentação e expressão, a partir da motivação dos seus alunos (Cast, 2014).
Desta forma, o DUA implica uma alteração do currículo em todas as suas dimensões: a avaliação, a prática pedagógica e a participação e progresso de todos os seus alunos. Sempre considerando três princípios básicos (Meyer, 2002):
– Proporcionar múltiplos meios de representação;
– Proporcionar múltiplos meios de ação e de expressão;
– Proporcionar múltiplos meios de envolvimento.
Seguem algumas estratégias práticas que podem ser utilizadas em diferentes idades, mas que proporcionam um ambiente educativo flexível, dinâmico, diversificado, a ver:
– Utilizar como ponto de partida o que o aluno já sabe – perguntar, criar discussões, debates;
– Realizar uma aula diversificada – música, tecnologia, materiais diversificados;
– Empregar diferentes espaços – mesmo em casa, é possível fazer pesquisas pela janela, por exemplo;
– Lançar desafios aos alunos – colocá-lo a pensar sobre os problemas do cotidiano;
– Contextualizar os assuntos – dar sentido e significado;
– Trabalhar por projetos;
– Ouvir mais – aprendizagem é TROCA.
Estas estratégias criam um espaço de maior possibilidade de troca entre os alunos. No trabalho por projeto, por exemplo, é possível que cada integrante do grupo possa trabalhar com as suas aptidões, possibilitando o intercâmbio e a cooperação de todos com todos. (CAST, 2011)
A base do ensino é a relação e esta não pode se perder. Não teremos atitudes perfeitas, mas possíveis para realidade que vivemos. Então, seja por ligação telefónica, e-mail, redes sociais (WhatsApp, YouTube, Facebook), correios, rádio ou reuniões por plataformas de ensino remoto, temos que pensar em formas de chegar até os nossos alunos e nas suas famílias. Dar condições para que eles sigam com as suas aprendizagens.
Fica o convite para continuarmos a luta por mudanças significativas do sistema de ensino como um todo. Podemos começar pela transformação das mentalidades, visões e abordagens para com o ensino, rompendo barreiras e alargando as fronteiras das possibilidades de aprendizagem em todo e qualquer espaço.
Referências:
CAST, C. F. (2011). Universal Design for learning guidelines version 2.0. Obtido em 2018, de Wakefield, MA. (CLIQUE AQUI)
MEYER, D. R. (2002). Teaching Every Student in the Digital Age: Universal Design for Learning. MA: Brookline.
PLETSCH, M. D. (janeiro de 2014). Educação Especial e Inclusão Escolar: Políticas, Práticas Curriculares e Processos de Ensino e Aprendizagem. Poíesis Pedagógica, 12 (1), 7-26.
SANCHES, I. (2011). Do aprender para fazer ao aprender fazendo: as práticas de Educação inclusiva na escola. Revista Lusófona de Educação (19), 135-156.