Débora Oliveira
Desde o nascimento, vamos aprendendo a usar o nosso corpo. Qual é o jeito certo de segurar os talheres, os lápis, a não botar o dedo na tomada. Nesse processo, somos guiados por nossos pais, avós ou cuidadores, e também pelas dores. É assim que vamos aprendendo a ser corpo no mundo. Erros, acertos, repetições e descobertas.
Mas nem tudo que aprendemos um dia continua útil para sempre. Um dia era penico, no outro dia damos conta da privada. A gente aprende, mas também é capaz de reaprender. E de aprender mais uma vez. E de aprender um outro jeito. Nossos cérebros têm uma capacidade de aprendizado surpreendente, assim como nossos músculos. Quanto mais descoberta, mais sinapses!
Mas a vida nem sempre dá espaço para descobrir. Muitas vezes, a possibilidade de descobrir o mundo fica ali restrita à infância, e a vida adulta vai se tornando um eterno repetir. Fazer tudo do mesmo jeito, fazer sempre assim porque dá certo. Mas, depois de algum tempo, uma repetição pode ir ficando velha, e gerar uma sobrecarga das estruturas do corpo. E adivinha quem volta para nos ensinar?
Elas, as dores. Nas costas, nos joelhos, na cabeça. As dores nos contam quando alguma coisa não vai bem. É o mecanismo de alerta do sistema nervoso que nos avisa que uma repetição está sobrecarregando o funcionamento do corpo. Veja alguns exemplos:
👉 Os dedos ao digitar por horas na tela;
👉 As mãos ao cozinhar por muitos dias seguidos;
👉 Os braços ao segurar o volante na estrada por toda a vida.
Então, um dos maiores segredos do corpo, principalmente no que diz respeito à saúde de nossos músculos, tendões, ligamentos e ossos, é dar a possibilidade de se mexer diferente de vez em quando. Se espreguiçar demoradamente, nadar, fazer um esporte ou dançar. É muito comum ouvir de pessoas que começam a dançar que estão experimentando um bem-estar para além do salão ou do estúdio de dança. A diversidade de movimentos é uma maravilhosa fonte de criatividade e saúde! E não importa a idade!
E sabe quem também gosta muito de diversidade? Aqueles próximos de nós que têm em sua constituição neurocognitiva a potência da diversidade. Estar com uma pessoa neurodiversa faz lembrar das infinitas possibilidades do corpo humano. A diversidade de maneiras de ser e de fazer as coisas. Lembrar que nem sempre precisamos fazer as coisas do mesmo jeito, e que nem sempre o jeito que deu certo vai continuar dando certo para sempre. Ainda somos capazes de descobrir coisas novas.
E estar com pessoas neurodiversas pode ser também um grande desafio. Porque é preciso descobrir os caminhos, descobrir por onde. Talvez a interação verbal não seja um caminho. Talvez o meu tempo não seja um caminho. É preciso descobrir caminhos que serão novos tanto para o outro quanto para mim. Eu sou capaz de descobrir coisas novas também.
Estou morando com Fernanda (nome fictício, para proteção da sua identidade), e estamos aprendendo muito sobre arte, movimento corporal e diversidade. Vou te contar um pouco sobre o que estamos desenvolvendo juntas aqui nas redes do Instituto Inclua, compartilhando videoaulas com brincadeiras, textos, músicas e muito movimento. Médicos, fisioterapeutas, professores, artistas e pesquisadores, gente de todos os cantos do Brasil também virão compartilhar informações e pesquisas recentes.
Vamos descobrir caminhos!
“O que mais gosto é de gente e gente é como nuvem, sempre se transforma.” (Angel Vianna)