Caio Cesar Rodrigues Toledo
Não é incomum ouvir no ambiente escolar que “Ritalina para toda a escola seria uma bênção” (Ritalina é uma medicação indicada como parte de um programa de tratamento para alunos diagnosticados com TDAH). Será que é tão comum assim a presença do transtorno em nossas escolas?
O TDAH é um quadro sindrômico, composto de sinais e sintomas comportamentais relacionados à desatenção, à hiperatividade e à impulsividade. Conforme a descrição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (American Psychiatric Association – APA), existem três tipos distintos de TDAH de acordo com a predominância de sintomas: 1) tipo predominantemente desatento; 2) tipo predominantemente hiperativo-impulsivo; e 3) tipo combinado ou misto. Os sintomas costumam iniciar normalmente antes dos sete anos de idade, embora a maioria dos pacientes seja diagnosticada apenas depois de alguns anos. O TDAH está relacionado a vários prejuízos para o desenvolvimento infantil, como perturbações motoras, dificuldades de aprendizagem e fracasso escolar.
TDAH é um transtorno biológico-neurológico? Diversas são as controvérsias no entendimento etiológico do transtorno. Nos Estados Unidos, por exemplo, os psiquiatras pediátricos o consideram como um distúrbio biológico. Assim, o tratamento também deve contemplar esse aspecto, por meio de intervenções medicamentosas com estimulantes psíquicos, tais como a Ritalina. Os psiquiatras infantis franceses, por outro lado, veem o TDAH como uma condição médica que tem causas psicossociais e situacionais. Em vez de tratar os problemas de concentração e de comportamento com drogas, o foco será no contexto social da criança. Eles, então, optam por tratar o problema do contexto social subjacente com psicoterapia ou aconselhamento familiar.
Independente da forma como olhamos o transtorno, a cultura francesa nos dá provas de que contextos sociais mais controlados podem diminuir a incidência e permanência dos comportamentos que resultam em uma problemática para a criança em diversos contextos. A seguir, indicamos algumas propostas para o manejo do comportamento no ambiente escolar e familiar das crianças.
O estabelecimento de regras claras é fundamental para a melhoria do ambiente. É mais efetivo quando essas regras são discutidas com as crianças, pois elas podem argumentar e, de fato, entender o sentido de cada uma delas. Em casa, por exemplo, é necessário ter horário para executar as tarefas, sejam elas do interesse ou não do aluno. Sugere-se mesclar atividades de baixa atratividade com de alta atratividade, assim como horários e rotinas para alimentação e outras práticas sociais, culturais e esportivas.
Como o TDAH pode estar associado a disfunções nas funções executivas, responsáveis pela organização e planejamento para executar uma ação, faz-se necessário que o ambiente, a rotina e as atividades das crianças sejam cuidadosamente e previamente preparadas. Sendo assim, pode-se utilizar checklists, indicando o passo a passo da tarefa que será executada; dividir o trabalho em partes; realizar listas dos materiais que deverão contemplar cada atividade; incentivar o uso de agendas e/ou programações; na escola, especificamente, pode-se escrever palavras-chaves na lousa, de modo a auxiliar na organização e assimilação do conteúdo apresentado.
Sempre que a criança realizar um comportamento esperado, ele deve ser reforçado por meio de elogios e aprovações. O retorno positivo deve ocorrer logo após o comportamento adequado, fazendo com que a criança entenda onde ela acertou e como ela conseguirá novas aprovações, seja em casa ou na escola.
Ao controlarmos melhor o ambiente no qual essas crianças se relacionam, podemos minimizar as sintomatologias do TDAH. Fica o questionamento: será que já estamos fazendo o necessário para que os sintomas se tornem menos frequentes no ambiente escolar, ou estamos favorecendo para que em breve a prevalência de alunos em idade educacional com TDAH aumente significativamente?